Aula 1 (50 minutos)
Atividades:
1. Discussão em grupo (15 min)
- Discutir com alunos o processo que torna determinados autores/as escritores consagrados;
- Indagar sobre quem eles pensam que são esses autores e como seu lugar social pode influenciar sua produção literária.
2. Introdução ao tema (10 min)
- Apresentação breve da autora: nascimento, moradia na favela do Canindé, publicação de Quarto de Despejo (1960), recepção crítica e posterior apagamento.
3. Exibição de trecho e discussão (20 min)
- Exibir trecho inicial do filme: Timecode 1 (00:01 a 08:20);
- Solicitar que os alunos tomem nota de quais temas consideram relevantes e quais fatos narrados mais chamaram sua atenção.
- Espera-se que sejam discutidos temas como fome, pobreza, desigualdade social, infância, racismo, preconceito religioso e a atuação das instituições.
4. Reflexões e preparação para aula seguinte (05 min)
- Tarefa: alunos devem pesquisar ao menos uma crítica ou artigo jornalístico sobre Carolina (atuais ou históricos) e trazer para próxima aula;
- Solicitar que os estudantes terminem de assistir à obra em casa.
Aula 2: 50 minutos
Atividades:
Reapresentação do filme (5 min)
Timecode 1 (14:42 a 20:05)
TEMA PARA O TRECHO
“Estética da/na fome”
Discussão (10 minutos)
- Qual é o valor da experiência cotidiana na produção literária?
- O cotidiano de Carolina a aproxima ou distancia de outros escritores que foram estudados? Por quê?
- “A fome também é professora”; “Eu só não cato é felicidade” – o que podemos dizer da escrita de Carolina quanto à sua estética?
- De onde vem a beleza de sua escrita?
A escrita de Carolina Maria de Jesus distância e muito de outros escritores tradicionalmente estudados antes dela (modernistas, realistas etc.). Embora o modernismo tenha introduzido temas urbanos e do cotidiano em suas obras (e até mesmo tematizado a pobreza), a escrita de Carolina é visceral, no sentido de que traz ao leitor a experiência literalmente cotidiana, constante da fome. Considere, por exemplo, o trecho “A minha filha Vera comec¸ou pedir comida. E eu na~o tinha. Era a reprise do espeta´culo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a dona Alice. Ela me deu a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual, a fome!” (13 de maio de 1958). Sua obra combina construções diretas e duras como “Vera comec¸ou pedir comida. E eu na~o tinha.”, seguidas imediatamente de construções cheias de lirismo, mas também questionamento crítico e uma certa raiva às estruturas (quando equipara a fome que sentia à escravidão).
Timecode 2 (23:23 a 30:11)
TEMA PARA O TRECHO
“O lugar da mulher negra favelada na literatura”
Discussão (10 minutos)
- Por que o sucesso de Carolina é tão impactante?
- O que seu sucesso revela sobre sua condição, e sobre a condição de tantas outras pessoas como ela?
- Por que havia tantas críticas à literatura de Carolina Maria de Jesus? Você acha que há um componente de racismo e preconceito nisso?
- Como podemos refletir sobre o momento histórico que o Brasil vivia, a partir da experiência de Carolina?
No trecho, acompanhamos a mudança que ocorre na vida de Carolina Maria de Jesus após a publicação de Quarto de Despejo, em 1960. Trata-se do ano em que Brasília tornou-se capital federal e o Brasil vivia um período de crescimento econômico, urbanização e industrialização. Esses fenômenos explicam a explosão do número de favelas pelo país, e a condição de Carolina evidencia que muitas pessoas estavam “de fora” desse crescimento econômico, sendo, desproporcionalmente, pessoas negras. Daí o caráter surpreendente do sucesso de Carolina, já que pessoas negras e faveladas tinham pouquíssimas oportunidades. Por outro lado, é curioso observar que Carolina já havia escrito outros livros; para ser reconhecida como escritora, precisou encontrar alguém com acesso a editoras, jornais e revistas. O sucesso também vem junto a críticas, tanto por conta dos chamados “erros” de português, quanto por conta do gênero de Quarto de Despejo. Em 2017, por exemplo, houve polêmica na Academia Carioca de Letras, quando um escritor afirmou que o livro não seria literatura por se tratar de um diário, considerado fora do cânone literário. Isso levanta uma reflexão: por que esse mesmo questionamento, baseado no gênero textual, nunca é feito a obras como Os Sertões, de Euclides da Cunha, que descreve Canudos, seu povo e a narrativa de uma guerra, todos acontecimentos, lugares e pessoas reais. Aqui, cabe refletir sobre como raça e gênero influenciam certos argumentos e julgamentos literários, muitas vezes de forma velada, reproduzindo preconceitos raciais e de gênero.
Material de apoio:
https://www.brasildefato.com.br/2022/08/02/o-estado-brasileiro-foi-um-estado-eugenista/
https://www.geledes.org.br/professor-diz-que-obra-de-carolina-maria-de-jesus-nao-e-literatura-e-provoca-embate-no-rj/.
Timecode 3 (36:18 a 41:51)
TEMA PARA O TRECHO
“Pensando o preconceito linguístico”
Discussão (5 minutos)
- Por que Carolina Maria de Jesus sofria preconceito linguístico?
- O que é o “português correto”?
O preconceito linguístico sofrido por Carolina é produto de racismo. Primeiro, porque, em geral, críticas a pessoas negras muitas vezes aparecem de forma “velada”; ou seja, não se pode criticar alguém por sua raça, então usa-se de subterfúgios. Segundo, porque os usos considerados corretos de uma língua são retirados dos escritores, e colocados nas gramáticas. São muitas as referências a grandes escritores quando são elaboradas regras de plural ou de regência. Ora, não seria Carolina uma grande escritora? Machado de Assis, em Quincas Borba, escreve: “a cabeça do Rubião meia inclinada”, quando o correto seria “meio”, já que advérbios não variam.
Reflexões e tarefa para a próxima aula (5 min)
Selecionar, em grupos, três parágrafos e “corrigir” os supostos erros cometidos por Carolina. Refletir: o texto fica melhor? Ganhamos alguma coisa? Perdemos alguma coisa?
Aula 3: 50 minutos
Atividades:
1. Introdução (10 min):
Roda de conversa inicial:
- Carolina escrevia “errado”?
- Como a sociedade reage quando uma mulher preta e pobre escreve sua própria realidade?
2. Discussão em grupos (10 minutos)
- Quem define e como se define o que é “certo”?*
- Que problemas podemos encontrar por não falar o português dito correto?
- Se os grandes escritores, ainda que indiretamente, definem os usos corretos, quem define quem são os grandes escritores? Quem foram/são eles, a que grupos sociais pertencem/pertenceram?
*O/A professor/a pode trazer trechos de gramáticas em que são expostas regras gramaticais retiradas de obras canônicas.
3. Segunda atividade em grupos (15 min)
- Carolina fazia literatura?
- Que elementos vemos em seu texto que podem nos levar à conclusão de que Quarto de Despejo, por exemplo, é de fato literatura?
- Quais características são comuns a textos literários e não aparecem na obra de Carolina?
- Que argumentos podem ser utilizados para afirmar que não se trata de literatura?
4. Atividade final (15 min)
- Separar a turma em 2 grandes grupos, que deverão debater se a obra de Carolina Maria de Jesus pode ou não ser considerada literatura;
- A própria turma deve decidir qual grupo defenderá qual ponto de vista, devendo o/a professor/a intervir caso não haja uma síntese;
- Os grupos deverão selecionar argumentos, seja com base na obra (principalmente), mas também no seu conhecimento prévio de literatura.